O Programa Estratégico das Forças Blindadas do Exército Brasileiro tem como objetivo renovar a frota de veículos blindados do país até 2040, promovendo pesquisa, desenvolvimento e inovação na indústria de defesa. O objetivo final é alcançar total disponibilidade operacional dos veículos leves, médios e pesados do Exército. O programa também visa fortalecer a capacidade de resposta da força nos níveis tático, operacional e estratégico.
O foco na modernização e melhoria das capacidades das forças blindadas alinha-se com os objetivos gerais de transformação do Exército Brasileiro, que incluem manter uma presença dissuasiva efetiva e estar preparado para responder a contingências em qualquer área de interesse estratégico para o Brasil.
Os veículos blindados no projeto de renovação das suas forças blindadas são:
- Veículo de Reconhecimento EE-9 CASCAVEL 90mm (modernizado)
- Veículo Leve Multipropósito 4×4 (LMV-2)
- Tanque Leopard 1A5BR 105mm (modernizado)
- Veículo Blindado de Cavalaria 8×8 (Centauro II)
- Veículo de Combate de Infantaria (em processo de seleção)
- Obus Autopropulsado sobre rodas de 155mm (Atmos)
- Transporte Blindado de Pessoal e Variantes 6×6 (Guarani)
- Novo tanque pesado (em processo de seleção)
VBTP-MR Guarani
O projeto do Veículo Blindado de Transporte de Pessoal (APC) sobre rodas médio 6×6 se centra na aquisição e implantação dos novos VBTP-MR Guarani, fabricados localmente e desenvolvidos pela IVECO em colaboração com a engenharia militar brasileira, representando uma importante adição à capacidade de defesa do país.
Os Guarani têm a capacidade de serem equipados com estações de armas remotas e manuais, proporcionando flexibilidade em termos de armamento e capacidades de combate. Algumas versões desses veículos podem incluir um canhão de 30mm controlado remotamente (SARC UT-30BR), aumentando significativamente sua potência de fogo e capacidade de resposta em situações de combate. Essa adaptação permite enfrentar uma variedade de cenários operacionais e desempenhar papéis diversos no campo de batalha, melhorando sua eficácia e versatilidade nas diversas operações militares.
Para relembrar, em 1999, o Exército do Brasil emitiu uma solicitação para o design de um novo tipo de veículo blindado com capacidade anfíbia, destinado a substituir os blindados Cascavel e Urutu desenvolvidos e fabricados nos anos setenta pela ENGESA. Entre as características deste novo veículo procurava-se um design modular que permitisse a integração de diversos sistemas de armas, torres, armas de médio e longo alcance, sensores e sistemas de comunicação em variantes do mesmo chassi.
Esses veículos são especialmente projetados para priorizar a proteção da tripulação e das tropas transportadas. Sua estrutura blindada oferece uma defesa muito eficaz contra múltiplas ameaças no campo de batalha, fundamental para garantir a sobrevivência e segurança das forças terrestres em situações de combate.
O Guarani também tem uma versão para engenheiros que está nas etapas finais de avaliação e produção em série, com a capacidade de usar implementos intercambiáveis para trabalhos de engenharia e desminagem. Por outro lado, há o veículo blindado porta-morteiro que está em desenvolvimento como parte de um projeto de integração realizado pela empresa IVECO, com a finalização do projeto programada entre 2029 e 2033. Além disso, aproveitando a versatilidade da plataforma, o EB planeja o desenvolvimento de diversas versões: posto de comando, defesa aérea e uma versão com radar, comunicações e ambulância.
Modernização do EE-09 Cascavel
Outro ponto fundamental está no esforço de modernizar os atuais blindados dos Regimentos de Cavalaria Mecanizada. Nesse sentido, o Exército Brasileiro realizou um processo de seleção exaustivo para escolher um substituto para os obsoletos blindados Cascavel. Como parte do programa de modernização, contratou-se um consórcio de empresas brasileiras para estender o ciclo de vida do veículo. O projeto mantém o canhão de 90mm, com parte da frota equipada com mísseis antitanque para aumentar a potência de fogo. Espera-se que os blindados sejam entregues até 2030.
Centauro II
No Projeto de Obtenção do Veículo Blindado de Combate de Cavalaria, o Exército escolheu o Centauro 2 como complemento e futuro substituto do Cascavel. Fabricado pelo consórcio ítalo-brasileiro Iveco-Oto Melara, este veículo de alta mobilidade 8×8 está equipado com um canhão de baixo recuo de 120mm, junto com um sistema de gestão de campo de batalha brasileiro.
O armamento principal do Centauro 2 é um canhão de 105/52mm estabilizado e de alta pressão, equipado com camisa térmica, freio de boca para reduzir o recuo e extrator de fumaça integrado. Também conta com um total de 40 projéteis, 14 dos quais preparados para serem disparados da torre e os restantes 26 armazenados como reserva. Este canhão, derivado do Royal Ordnance L7 britânico de 105mm, é uma peça fundamental no armamento do veículo, podendo utilizar munição padrão OTAN, incluindo projéteis cinéticos.
O design do casco é caracterizado por ser blindado de aço completamente soldado, concebido para resistir a tiros de 12,7mm e estilhaços de explosivos em sua configuração básica, oferecendo proteção adicional contra munição de 25mm na parte frontal. Para aumentar seu nível de proteção, podem ser adicionadas placas extras de blindagem contra munição de 30mm.
Além de sua estrutura robusta, o Centauro conta com um sistema integrado de proteção contra ameaças NRBQ (nuclear, biológica e química) que faz parte do sistema de ar condicionado do veículo. Também incorpora 4 tubos lançadores de granadas de fumaça em cada lado da torre e um sistema de alarme contra sistemas de mira a laser LWR (Laser Warning Receiver), contribuindo para reforçar sua capacidade defensiva e sua preparação para diversos cenários operacionais.
Como já mencionado em notas anteriores na Zona Militar, espera-se que o primeiro protótipo chegue ao Brasil nos próximos dias, após enfrentar contratempos burocráticos no porto de Hamburgo, Alemanha. O segundo protótipo será mantido na Itália para avaliações antes de ser enviado ao Brasil.
IVECO e LMV-BR
A IVECO também está fornecendo o novo veículo LMV-BR, representando uma mudança significativa nas capacidades das brigadas mecanizadas. Espera-se a entrega de dois lotes adicionais entre 2023 e 2028, aumentando a proteção das tropas em terra. Em junho, foi confirmada a aquisição de 420 novas unidades.
ATMOS
O programa inclui a aquisição do ATMOS autopropulsado sobre rodas de origem israelense, com dois protótipos previstos para 2024. Se aprovado, serão adquiridas 34 unidades até 2034, substituindo parte dos antigos M109.
Veículos Sobre Lagartas
O subprograma visa modernizar o principal meio blindado de combate e incorporar novos veículos de combate de infantaria (IFV), atualizando a frota de Leopard 1 A5 BR. Ainda não está claro se o EB busca um novo tanque MBT ou uma plataforma versátil com torre de 105 ou 120mm. Modelos em avaliação incluem:
- Elbit SABRA LUZ
- CV90 da BAE Systems
- NORINCO VT5 / VN17
- AFV (Hunter Armored Fighting Vehicle) da ST Enginering
Finalmente, o treinamento de tripulações de veículos blindados é um aspecto importante da preparação do Exército Brasileiro. Devido ao custo da munição, os simuladores são prioritários. O Brasil utiliza bons simuladores para o Leopard 1A5 e está desenvolvendo simuladores para a família Guarani e a torre Elbit UT-30. Também serão desenvolvidos simuladores para o Centauro II.