O TI-TI-TI DO ‘SÃO PAULO’: funcionário do Governo Hollande diz que NAe brasileiro pode navegar até 2036, mas precisa da ajuda francesa
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Roberto Lopes
Collet-Billon e o NAe “São Paulo”
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Roberto Lopes
Em uma declaração surpreendente, que, pela primeira vez, alude à grave crise econômica brasileira, o Delegado Geral para o Armamento do Ministério da Defesa da França, Laurent Collet-Billon, declarou ao site noticioso francês
Lemarin.fr, que o porta-aviões brasileiro São Paulo (A-12) ainda tem “de 15 a 20 anos” de carreira, mas precisa da ajuda francesa.
De acordo com o texto publicado pelo
Lemarin.fr nesta sexta-feira (22.04), os franceses ofereceram um “pacote de modernização que permanece compatível com as atuais – frágeis – finanças do país”. Óbvia referência à proposta feita pelo estaleiro DCNS de substituir o sistema de propulsão a vapor do navio por uma motorização a diesel.
De acordo com um almirante ouvido pela coluna INSIDER, a oferta feita pela DCNS não é assim tão “compatível” com o estado deplorável da Economia nessa reta final do governo Dilma Roussef. O custo desse serviço – e de outros menores, como a reforma da catapulta do navio – ascenderiam seu conjunto, ao patamar de valor de uma moderna fragata polivalente de 6.000 toneladas: algo em torno dos
700 ou 800 milhões de dólares.
O porta-aviões brasileiro (atracado no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro) visto do espaço
No fim de fevereiro, uma fonte do Comando da Marinha revelou ao editor desta coluna que sua Força se esforça por arregimentar recursos que permitam o início das obras no
São Paulo em 2017, mas nem o Comandante da corporação, almirante Eduardo Leal Ferreira, nem o Almirantado, têm já delineado o porte de reforma que julgam exequível para o A-12.
Pressões – A proposta da DCNS data do primeiro semestre de 2014. No trimestre inicial de 2015 o Ministério da Defesa francês ajustou com a Marinha do Brasil um termo de compromisso que previa a reavaliação, por parte dos chefes navais brasileiros, de todo o planejamento elaborado pelos franceses.
Entretanto, na metade final do ano passado, em função da onda de restrições orçamentárias que se abateu sobre as Forças Armadas, esse trabalho perdeu inteiramente seus prazos.
Nessa época, em ao menos três ocasiões, executivos da DCNS alimentaram os dois principais sites de assuntos marítimos franceses –
Mer et Marine e
Le Marin – com argumentos e informações de bastidor que cobravam uma tomada de posição pela Marinha e a autorização para que a DCNS iniciasse o trabalho no navio-aeródromo.
Depois que a coluna INSIDER denunciou essa manobra, as notinhas pararam. Mas agora, pela primeira vez, um alto funcionário do Ministério da Defesa da França toma a iniciativa de pressionar a Força Naval e o governo brasileiros.
A situação é, contudo, muito mais difícil que os franceses possam imaginar.
Pagamentos – A incerteza quanto à liberação de verbas praticamente anulou o planejamento de quitação dos débitos assumidos pela Marinha.
Confrontado, todos os meses, com a miríade de contas a pagar, Leal Ferreira e seus colaboradores diretos definem um punhado de pagamentos pontuais e parciais, capazes de amenizar os atrasos no conjunto da planilha de contas em aberto.
Além de todas as obrigações com o custeio da Força, os chefes navais brasileiros precisam separar recursos para manter em atividade, entre outros programas, (1) o da fabricação dos submarinos classe Scorpène em Itaguaí (RJ); (2) a revitalização dos helicópteros Lynx na Inglaterra; (3) a conversão, que vem sendo realizada nos Estados Unidos, dos bimotores Trader em aeronaves utilitárias para operação em porta-aviões; (4) a pesquisa, no Brasil, de sonares, mísseis navais e de um modelo de reator compacto para uso em submarinos; (5) a aquisição, também junto a fornecedores americanos, de um novo lote de CLANFs para o Corpo de Fuzileiros Navais; (6) a modernização de caças A-4KU do Esquadrão Falcão; e (7) a continuação da fabricação de três navios-patrulha costeiros classe Macaé.
Ao lado desses projetos já em andamento há dezenas de outros que aguardam disponibilidade financeira, como (a) o desenvolvimento do Projeto CV03 (corveta classe Tamandaré); (b) a reforma dos motores dos submarinos classe IKL-209; (c) a aquisição de suprimentos para fragatas classe Niterói; (d) a renovação dos helicópteros de instrução da Força Aeronaval (que deveria ter sido iniciada um ano atrás); e (e) a aquisição de embarcações para substituir meios navais com mais de 40 anos de uso, como os navios da Força de Minagem e Varredura.
Fragatas classe Niterói, helicópteros de instrução da Força Aeronaval e meios da Força de Minagem e Varredura: todos itens que requerem a disponibilidade financeira da Marinha
Mas, de seu confortável gabinete em Paris,
Monsieur Laurent Collet-Billon, de 66 anos anos – engenheiro grandalhão formado na prestigiosa Escola Nacional Superior de Aeronáutica e do Espaço (turma de 1974) da França – não leva nada disso em consideração, claro.