EXCLUSIVO: Análise do MoD aponta reforma milionária do quebra-gelos argentino ’Almirante Irízar’ como própria da preparação de um porta-helicópteros de controle de área
Por
Roberto Lopes
Análise preparada em fins de 2015 pelo Ministério da Defesa britânico (MoD) e compartilhada, ano passado – não se sabe por quais meios –, com diplomatas e militares chilenos, aponta a dispendiosíssima reconstrução do quebra-gelos argentino
Almirante Irízar (Q-5), realizada pelo estaleiro Tandanor, como um serviço destinado a preparar o barco para, em caso de conflito, atuar como porta-helicópteros de controle de área marítima.
A informação obtida pela coluna INSIDER junto a uma fonte do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, assinala que o que chamou a atenção dos ingleses foi a numerosa e cara variedade de radares e outros sensores eletrônicos selecionada pela Marinha Argentina para ser instalada a bordo da unidade – como, por exemplo, sensores de varredura aérea de longo alcance, justificados como facilitadores das operações do navio com os seus helicópteros. Algo “não usual” até mesmo para uma embarcação que se destina a operar em latitudes polares.
Supõe-se que tais dados teriam sido obtidos pelos ingleses por meio de espionagem, em território argentino e junto aos fabricantes internacionais de material eletrônico.
Argentina e Reino Unido foram à guerra, no primeiro semestre de 1982, por causa do controla do arquipélago das Malvinas, que fica no Atlântico Sul, defronte à parte meridional do território continental argentino.
Alguns equipamentos encomendados para o navio têm performance desconhecida até mesmo para os especialistas estrangeiros, como o radar secundário do barco, um modelo RSMA-N (
Radar Secundario Monopulso Argentino Navalizado) desenvolvido e testado pela reputada companhia de alta tecnologia argentina Invap.
Uns poucos foram submetidos a modernização, caso do radar Plessey AWS-2, reinstalado no
Irízar a 16 de dezembro de 2014 depois de passar por reforma nas instalações da Divisão de Antenas do
Instituto de Investigaciones Científicas y Técnicas para la Defensa (CITEDEF).
O sensor principal do radar mede 5 m de largura por 3 m de altura. Ele teve reparados os seus componentes aéreos e de radiofrequência, e também ganhou um sistema de controle digital.
Custo – Da sala de máquinas e da ponte de comando até os controles de emergência e de controle de incêndios do
Almirante Irízar, todos os sistemas foram automatizados com tecnologia atualizada.
Sua velocidade sustentada, de 17,2 nós horários, será superior aos 14 nós da marcha de cruzeiro do moderno navio-doca classe Makassar (comprado pela Marinha do Peru), de desenho sul-coreano – e maior até do que a velocidade máxima desse modelo, estimada em 16 nós.
Na reforma, a capacidade da embarcação de transportar combustível antártico quase dobrou: de 350 toneladas para 650 toneladas.
A Marinha Argentina recebe, rotineiramente, parlamentares, autoridades administrativas e adidos navais estrangeiros a bordo do Irízar, mas raramente essas visitas, recheadas de um sem-número de explicações, coincidem no item do valor da reforma do barco – sempre apresentado de forma parcial.
Em 2014, dirigentes do Tandanor admitiram que o custo de recuperação do navio não ficaria abaixo dos 120 milhões de dólares. Mas em agosto do ano passado o jornal La Nación publicou que o serviço, até aquele momento (com 90% dos trabalhos concluídos, segundo o comandante da Marinha Argentina, vice-almirante Marcelo Srur), já incinerara 284 milhões dos preciosos dólares do Tesouro Argentino – dinheiro que, em qualquer estaleiro europeu de renome, daria para comprar uma fragata porta-mísseis leve ou quase quatro OPVs (
Ocean Patrol Vessels) de 1.500/1.800 toneladas.
Desembarque – Em abril de 1982, durante o assalto anfíbio a Puerto Argentino, capital das Ilhas Malvinas, o
Irízar foi empregado para transportar as tropas que fariam um desembarque helitransportado perto de Stanley. Depois serviu como navio-hospital (foto abaixo).
O quebra-gelos pegou fogo a 10 de abril de 2007 e foi rebocado, inicialmente, para a Base Naval de Puerto Belgrano. Sua recuperação teve início em novembro de 2009, depois que o estaleiro Tandanor removeu 860 toneladas (!) de entulho (chapas queimadas em sua maior parte) resultantes do sinistro.
O trabalho no
Irízar deveria demorar dois anos, mas somente em agosto de 2010 o barco teve os seus dois motores removidos para dar lugar a equipamentos novos, de maior potência.
Nos últimos seis anos a reforma do quebra-gelos transformou-se em um complicado jogo de previsões, contra-informações, adiamentos, denúncias e números contraditórios, mudados com grande frequência.
O governo de Buenos Aires já anunciou por cinco vezes o início dos testes de mar do Almirante Irízar – provas estas que nunca se efetivaram.
Espaço – O navio, de 121,3 m de comprimento e 14.899 toneladas de deslocamento (a plena carga) pode transportar dois helicópteros de porte médio (SH-3 Sea King ou Super Puma) em seus dois hangares.
Dois flagrantes das atividades no convés de voo e nos dois hangares para helicópteros do quebra-gelos
Durante a reconstrução operada em seus diferentes conveses internos ganhou uma área total de compartimentos 5,6 vezes maior (de 74m² passou a 415 m²) e capacidade de embarcar 68 pessoas a mais do que as 245 transportadas originalmente.
Em função disso, quase 20% de todos os serviços a bordo precisaram ser redimensionados, como aconteceu, por exemplo, nos reservatórios de água potável, na cozinha e na questão da habitabilidade, que exigiu novas comodidades.
http://www.planobrazil.com/exclusiv...de-um-porta-helicopteros-de-controle-de-area/