Emirados Árabes Unidos podem descartar o Rafale
13 de setembro de 2010, em Concorrências Internacionais, Noticiário Internacional, Sistemas de Armas, por Vader
Hornet, um concorrente surpresa para um negócio de US$ 10 bilhões
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Pierre Tran
Os Emirados Árabes Unidos (EAU) solicitaram informações técnicas sobre o caça norte-americano Boeing F/A-18E/F Super Hornet, uma atitude inesperada que transforma a encomenda antecipada do Dassault Rafale em uma competição de 10 bilhões de dólares, informou uma fonte de defesa da Arabian Gulf.
“Os Emirados Árabes Unidos pediram aos Estados Unidos da América informações sobre o F/A-18 Super Hornet nas versões mono e biplace”, disse a fonte. “Está nas fases iniciais, é um contato preliminar. Os Emirados Árabes Unidos abriram a porta para eles.”
As autoridades dos EAU se aproximaram da Boeing há cerca de um mês atrás, e foram encaminhadas para o governo dos EUA, que deverá responder em aproximadamente um mês, disse uma fonte americana.
Não está claro por que Abu Dhabi repentinamente manifestou interesse na mais recente versão do caça-bombardeiro americano. A tecnologia pode ser parte da razão, mas é mais provável que a causa principal seja política.
A notícia, porém, vem como um grave transtorno para o governo e a indústria francesa, que esperam com confiança garantir a venda do jato da Dassault sem competição.
“Isso significa cerca de US$ 10 bilhões, dependendo da data de entrega e especificações”, disse a fonte do Golfo. O negócio significa muito mais para a França, que investiu muito capital político e esforço em lançar o avião para o Estado do golfo.
O Rafale é o porta-estandarte da indústria aeroespacial francesa, e demonstra toda a competência da Dassault como uma projetista e construtora de caças de ponta, da Safran em motores e da Thales em radar, guerra eletrônica e aviônicos. Uma série de sub-contratantes dependem do jato, enquanto a MBDA espera que uma compra dos Emirados Árabes Unidos levará à exportação do Meteor e de outros mísseis.
Dois anos atrás, Claude Gueant, Secretário-Geral do gabinete do presidente Nicolas Sarkozy, disse à rádio Europe 1 que “a França está em negociações com sérias esperanças de, efetivamente, vender cerca de 100 Rafales. Após 23 anos, nós vamos finalmente vender Rafales“.
No ano passado Sarkozy colocou sua marca pessoal no esforço de vendas, falando do caça durante uma visita a Abu Dhabi, para abrir a nova presença militar francesa permanente no Golfo Pérsico. Cerca de 500 militares franceses ficarão estacionados na base aérea de Al Dhafra, que abriga um pequeno número de caças Rafale, e na base naval no porto de Mina Zayed. A Marinha francesa ressaltou a importância da visita despachando para lá três navios de guerra.
O Rafale ainda tem que ganhar uma exportação; se os Emirados o comprarem, outros países poderiam seguir o exemplo.
Os Emirados Árabes Unidos pretendem substituir os 63 Dassault Mirage 2000-9 adquiridos há pouco mais de uma década. Como parte dos esforços de Paris para vender o Rafale, a França ofereceu-se para comprar de volta os Mirage, o que se realizará mediante uma empresa de propósito específico, enquanto procura um comprador externo.
Os contatos com o gabinete do Presidente da França não foram retornados antes que esta matéria fosse publicada.
Por que da mudança?
Não está claro por que os Emirados Árabes Unidos estão estudando uma opção norte-americana.
A fonte americana disse acreditar que o Estado do Golfo está frustrado em relação ao preço e à tecnologia oferecida pela França.
As autoridades dos EAU vêm negociando com o governo e a indústria francesa o potencial co-desenvolvimento de uma versão mais capaz, “de quinta geração”, do Rafale.
Abu Dhabi está sendo obrigada a pagar para atualizar o Rafale, enquanto que o F-18 já está no nível tecnológico desejado.
A fonte do Golfo afirmou que “o Super Hornet tem tudo que precisamos. Nós não precisamos co-desenvolvê-lo ou modificá-lo.”
Os melhoramentos em discussão incluem um radar tipo AESA com maior alcance, uma suite de guerra eletrônica SPECTRA mais capaz e um motor M88 que entregue 9 toneladas de empuxo, 1,5 tonelada a mais do que os Rafale da Força Aérea Francesa.
O Ministro da Defesa Francês Hervé Morin disse que desenvolver as atualizações custaria aos EAU cerca de 2 bilhões de Euros (US$ 2,6 bilhões). A própria França também bancaria parte dos custos.
Informações divulgadas na mídia dão como o real custo de desenvolvimento para os EAU entre 4 e 5 bilhões de Euros. Morin afirma que esses valores são “fantásticos”.
Os Emirados Árabes Unidos ajudaram a financiar o desenvolvimento da versão Block 60 do Lockheed-Martin F-16 e detém a propriedade de algumas das tecnologias. Os Emirados compraram 80 “Desert-Falcon” por US$ 7,2 bilhões na década de 1990, no âmbito de uma política de difusão de compras entre os fornecedores.
Ventos políticos?
Mas a fonte do Golfo disse que a tecnologia não foi o motivo para a mudança repentina. “Não se trata das especificações”, garantiu a fonte.
Talvez uma mudança política esteja por trás. O Presidente Executivo da Dassault, Charles Edelstenne, sublinhou o papel da política na venda de caças.
“A venda de uma aeronave de combate é um ato político. Tudo o que podemos fazer é construir o melhor avião possível”, Edelstenne disse em março. “O Eliseu (gabinete presidencial) faz um trabalho soberbo. Em maio de 2007, nós não tínhamos perspectivas. Hoje, temos um número significativo”.
Além das negociações com Abu Dhabi, a Dassault tem colocado o Rafale em concorrências no Brasil, na Índia e na Suíça. Paris também teve no ano passado um período de conversas exclusivas com a Líbia, que foram finalizadas sem negócio.
O F-18 é um dos competidores nas concorrências do Brasil e da Índia. A Boeing se retirou da competição suíçada, que foi adiada , mas poderia voltar a entrar quando esta for relançada.
Não está claro qual mudança política poderia ter ocorrido recentemente entre França e os Emirados Árabes Unidos, dizem os analistas. “Não houve uma mudança notável nas relações”, disse Pierre Razoux, consultor sênior de pesquisa do Colégio de Defesa da OTAN em Roma.
Relações pareciam sólidas
A inauguração da base militar francesa enviou um forte sinal de apoio político. A posição dura de Sarkozy sobre o programa nuclear iraniano foi um sinal de que as relações bilaterais estavam funcionando em um curso normal.
“Abu Dhabi é um bom amigo”, disse Razoux.
O Rafale não seria a primeira arma francesa a firmar sua primeira venda de exportação com Abu Dhabi. Em 1994, os Emirados Árabes Unidos gastaram US$ 2,4 bilhões para adquirir 390 tanques Leclerc e 46 veículos blindados de recuperação, construídos pela Nexter, então conhecida como Giat Industries. Essa foi a única venda de exportação do Leclerc.
Mas o Rafale é também o segundo negócio de armas europeu nos últimos meses a fundear nos EAU. No mês passado, a Finmeccanica foi incapaz de entregar tecnologia UAV, o que tinha sido acordado no âmbito de uma venda de 48 treinadores a jato M346, levando os Emirados Árabes Unidos a reabrir as negociações para adquirir as aeronaves T-50 da Coreia do Sul.
FONTE/FOTO: Defense News /Dassault
TRADUÇÃO/ADAPTAÇÃO: Vader/Poder Aéreo (*OBS: o título original da matéria é “UAE May Ditch Rafale”)
COLABOROU: Grifo
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