. Resultados iniciais da Lei do Abate
Os resultados da Lei do Abate foram contabilizados no mês seguinte à sua entrada em vigor. Em novembro de 2004, constatou-se a redução de 32% dos vôos irregulares, embora não tivesse ocorrido ainda nenhuma medida extrema de interceptação de aeronaves identificadas 41. Em janeiro de 2005, a Polícia Federal e a Aeronáutica já percebiam mudanças nas rotas do tráfico, com redução de 60% de vôos clandestinos originados da Bolívia, Peru e Colômbia, sendo que os vôos irregulares em todo o Brasil tiveram redução média de 40% nesse período 42. A Polícia Federal identificou também a mudança das rotas que usavam o espaço aéreo brasileiro, como a rota da Colômbia ao Suriname, que substituiu o Brasil pela Venezuela como área de passagem, e as rotas que saíam da Colômbia direto para o Centro-Sul brasileiro, substituídas por rotas que passam por Bolívia e Paraguai ou Costa do Pacífico antes de entrar no Brasil .43 O Suriname se destaca também por ser via de mão dupla de saída de armas ilegais e entrada de drogas.
Em abril de 2004, a Comissão Parlamentar de Inquérito que investigava o tráfico de armas concluiu que a Lei do Abate havia ocasionado a priorização de transportes terrestres para o tráfico de armas no Brasil 44 e o incremento do uso de transporte terrestre nos primeiros 100 km de fronteira e continuação via aérea a partir de uma cidade brasileira na fronteira, visto que as rotas aéreas internacionais eram as mais vigiadas 45. A vantagem desta tática está também no tempo de vôo necessário para realizar tal operação (20 minutos), que é menor do que o tempo necessário para que as aeronaves interceptadoras possam chegar às localizações fronteiriças (45 minutos) 46.
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Outra possibilidade seria a rota aérea do Suriname ao litoral do Nordeste, onde há menor visibilidade 48. As apreensões de droga por vias fluviais e terrestres aumentaram no Nordeste de 10% para 25% do total de apreensões após um ano de aplicação da Lei do Abate 49.
As autoridades acreditavam que a redução e as mudanças de rota dos vôos criminosos seriam maiores quando ocorresse o primeiro abate com repercussão internacional .50 O primeiro abate foi realizado em abril de 2005, na cidade de Santana do Livramento (RS), fronteira com o Uruguai. Até o final de 2005, haviam sido registradas vinte ocorrências, sendo dez na região Amazônica 51.
Em 2007, o aumento das apreensões de droga no Brasil foi explicado pela DEA pela intensificação do fluxo no corredor entre Colômbia e Brasil passando pela Venezuela, com objetivo de fazer chegar a cocaína à Europa via Brasil e África. Inicialmente, a Polícia Federal creditava o aumento das apreensões à Lei do Abate, que substituíram o uso de rotas aéreas por rotas terrestres e fluviais. Aliás, esse tem sido o teor de maior parte das avaliações de autoridades. Como conseqüência, têm sido reforçadas ações de controle de rotas fluviais e terrestres, como as implementadas na fronteira brasileira com a Bolívia e a Colômbia, como as bases da Polícia Federal em Costa Marques (RO), inaugurada em 2006 52, e Santo Antônio do Içá (AM), inaugurada em 2008 53.