EADS busca fornecedores brasileiros
Marli Olmos,
de São Paulo e Marselha
De forma discreta, a gigante aeroespacial européia EADS (European Aeronautics Defense and Space) deu início ao processo de classificação de fornecedores para o Super Cougar, o helicóptero que será produzido no Brasil a partir de um pedido de 51 unidades que o governo federal deverá referendar até dezembro. Em processo de expansão da fábrica de Marselha, na França, única no mundo que produz o mesmo modelo, a Eurocopter, divisão de helicópteros da EADS, acompanha a estratégia do grupo europeu de diversificar as bases de produção, investindo nos mercados emergentes. Os fornecedores em potencial são praticamente os mesmos que abastecem a Embraer, instalados, em sua maioria, no Vale do Paraíba (SP), onde está a fábrica de aviões brasileira.
Enquanto se discutem os efeitos da crise, silenciosamente a gigante aeroespacial européia EADS (European Aeronautics Defense and Space) deu início ao processo de classificação de fornecedores do Super Cougar, o helicóptero que será produzido no Brasil, a partir de um pedido de 51 unidades que o governo brasileiro deverá referendar até dezembro. Em processo de expansão da capacidade na fábrica instalada em Marselha, na França, única do mundo que produz o mesmo modelo, a Eurocopter, divisão de helicópteros da EADS, acompanha a estratégia do grupo europeu de diversificar as bases de produção, investindo mais nos mercado emergentes.
Eduardo Marson Ferreira, diretor geral da
EADS no Brasil: "Estamos indo além do
que é um projeto industrial aeronáutico"
O processo de qualificação de fornecedores brasileiros começou com um encontro com fabricantes de componentes. A partir daí, a matriz da empresa, na França, enviou formulários.
As empresas que se consideram em condições de fornecer peças para o novo helicóptero já começaram a enviar os formulários preenchidos . Os fornecedores em potencial são praticamente os mesmos que abastecem a Embraer. Por isso, grande parte tem fábricas na região do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, onde está instalada a fabricante de aviões brasileira.
A crise não mudou os planos do grupo EADS de expandir a produção de helicópteros no Brasil. A indústria que disputa os céus não pode parar nas crises. A chegada de um helicóptero ao mercado leva anos. E a produção de um, em média, 18 meses. A entrega da primeira unidade da encomenda do governo brasileiro deverá ocorre somente daqui a dois anos. Para que todas as aeronaves a serem encomendadas pelo governo estejam prontas serão necessários sete anos.
O Brasil é um dos países que integra a estratégia da EADS de expandir as operações fora da Europa. Hoje, além das unidades européias na França, Alemanha e França, o grupo produz helicópteros nos Estados Unidos, Austrália e China, além do Brasil.
Na sede da Eurocopter, localizada em Marignane, distrito de Marselha, no sul da França, a fábrica chegou ao limite da capacidade. A construção de novo hangar permitirá acomodar em breve o aumento no ritmo de produção.
Nos quatro últimos anos, o faturamento mundial da Eurocopter, que lidera o mercado, praticamente dobrou, para 4,17 bilhões de euros. Em sete anos, as entregas duplicaram para 488 unidades e os planos da companhia são dobrar mais uma vez o volume até 2020. Daí o interesse por expandir a atividade em novos pólos.
Essa indústria se expande para acompanhar uma demanda de mercado que dá mostras que ainda tem muito a crescer, segundo os executivos do setor. Além da demanda para o uso militar, o diretor geral da EADS no Brasil, Eduardo Marson Ferreira, aponta o crescimento populacional nas metrópoles, o que leva à intensificação do uso do helicópteros nos grandes centros urbanos.
Em grandes cidades, pesa o aspecto da segurança, que eleva a demanda do transporte de determinados valores por via aérea. Além disso, crescem as missões de resgate, incluindo aí a intervenção de helicópteros da polícia em casos de pessoas com problemas de saúde no meio do caótico trânsito como o de São Paulo.
Nas três últimas décadas, a frota de helicópteros no Brasil passou de 350 para 856 unidades. Dessas, 420 estão na cidade de São Paulo que, ao lado de Nova York e Tóquio, conta com o maior número de helicópteros do planeta.
O grupo EADS espera que o contrato de venda do Super Cougar seja fechado até o início de novembro. A encomenda deverá totalizar 51 helicópteros, um numero que permite dividir o lote em três partes iguais, para poder atender Exército, Marinha e Aeronáutica sem fazer diferenças.
Mas fora do uso militar, a direção da EADS começa a vislumbrar uma nova oportunidade de negócios. Existe a expectativa de que a Petrobras possa se interessar pelo mesmo modelo e sugerir o seu uso às empresas que operam os helicópteros que atendem as suas bases.
O grupo EADS se entusiasmou com os campos petrolíferos anunciados nas costas de São Paulo e Rio de Janeiro. Ferreira, o diretor geral da EADS no Brasil, lembra que as distâncias entre esses campos chegam a 300 quilômetros, em média. Esse mercado, chamado pela indústria de "off-shore", requer helicópteros de grande capacidade e sistemas de controle eletrônico sofisticados.
O Super Cougar foi lançado na Europa há um ano. O primeiro, que pertence ao Exército da França, atua hoje no Afeganistão. O modelo brasileiro será produzido na Helibras, uma empresa instalada em Itajubá (MG). Embora não comente o assunto, o grupo EADS está prestes a comprar as ações que o grupo de investimentos Bueninvest tem na Helibras. Isso elevará sua participação na empresa dos atuais 45% para 70%. O governo mineiro tem 25%. A mudança na participação acionária ocorre no momento em que o novo projeto industrial demanda mais recursos. Estima-se um investimento em torno de 350 milhões de euros no projeto do novo helicóptero.
A EADS decidiu dar ao helicóptero brasileiro a denominação de de EC 725 BR, embora o mercado tenha se habituado a chamá-lo de Super Cougar, o mesmo apelido que leva na Europa. Com capacidade para 22 passageiros, o Super Cougar custa em torno de US$ 25 milhões a US$ 30 milhões, dez vezes mais que o pequeno Colibri, produzido no Brasil há 30 anos.
Eurocopter EC-725
Apresentado na feira de Le Bourget 2007 o EC-725 na versão de Forças Especiais. Com a lança de reabastecimento em vôo e o sistema FLIR.
O EC-725 está operando no Afeganistão junto com as tropas da ISAF e Forças Especiais Francesas.
Pode parecer um atraso o Brasil só receber um grande novo projeto do setor três décadas depois da primeira investida. Mas a direção da empresa lembra que faltava uma base de fornecimento como a que existe hoje. Ferreira diz que a idéia é já nacionalizar motor e instrumentos. O governo brasileiro exigiu que o nível de nacionalização chegue a pelo menos 50% em cerca de seis anos. "Estamos indo além do que é um projeto industrial aeronáutico", diz Ferreira. Já é certo que as turbinas serão fornecidas pela Turbomeca, empresa que também atende a Eurocopter na Europa. Esse fornecedor deverá instalar uma unidade industrial em Xerém, no Rio de Janeiro.
Eurocopter assume liderança mundial e
busca novos locais para produção
De Marselha
É em um cenário de cinema que os pilotos da Eurocopter fazem seus testes de vôo. A matriz da companhia está situada bem ao lado das chamadas "Calanques", uma fileira de quase 20 quilômetros de imensos penhascos enfileirados ao longo da costa sudoeste de Marselha, no Mar Mediterrâneo. Nessa fábrica trabalham 10 mil pessoas, envolvidas em operações que vão do desenvolvimento do produto ao serviço ao cliente.
Os turistas que querem chegar próximos das "Calanques" recorrem a barcos que diariamente saem do porto de Marselha. Mas para quem diariamente executa os testes de vôo, parece até banal circular entre as paisagens que mais aparecem em cartões postais vendidos na região de Provence. Mais interessante para alguns funcionários das empresas do grupo EADS na França é saber como é viver em uma cidade como São Paulo, apontada como a dona da maior frota de helicópteros do mundo.
A Eurocopter é a divisão de helicópteros controlada pelo grupo EADS que também engloba a área espacial e a fabricante de aviões da Airbus. O grupo, inicialmente era chamado de consórcio europeu, por envolver três países (França, Alemanha e Espanha), surgiu de fusões entre empresas, há 16 anos. Hoje é visto como um símbolo da cooperação industrial européia.
Nos últimos anos, a Eurocopter conseguiu roubar a liderança da americana Bell. A companhia européia é dona hoje de 53 % do mercado mundial. Com 17 subsidiárias, tem 40 mil funcionários em todo o mundo e novas vagas serão abertas nos próximos meses por conta de expansões.
A carteira global de pedidos da Eurocopter saiu de 3,52 bilhões de euros em 2005 para 6,60 bilhões de euros, no ano passado. Em 2007, o faturamento cresceu 10% em comparação com o ano anterior, num total de 4,17 bilhões de euros. Na Helibras, a fábrica brasileira do grupo, a receita passou de US$ 59 milhões em 2006 para US$ 91,9 milhões, no ano passado. A carteira de pedidos da filial brasileira ficou em US$ 187,1 milhões em 2007, quase três vezes mais que a de 2005.
Em Marignane, as aeronaves, fabricadas em seis linhas de montagem, ainda recebem apelidos de animais - Colibri, Esquilo, Golfinho, Puma. Foi aliás um Esquilo - montado também no Brasil - o único helicóptero que conseguiu, há dois anos, aterrissar no Monte Everest, batendo recorde de maior altura em aterrisagem e decolagem. Mas a globalização começou a mudar o hábito de apelidar helicópteros com nomes de animais. Alguns nem sempre são conhecidos em determinados países, explica Cécilie Vion-Lactuit, porta-voz da empresa.